Desafios da Moda
Quem ainda tem a ilusão de que moda é só glamour, trate de desfazer o castelo. Este universo exige trabalho árduo, criatividade, jogo de cintura, visão de gestão e fôlego para lidar com a concorrência diante de um mercado inchado e carente de mão de obra qualificada (costureira, pilotista, modelista etc). O lado bacana é a formação cada vez mais profissional, com cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e o surgimento de novos talentos. Agora não basta o diploma na mão.O designer precisa ir à luta, encarar o dia a dia, que está longe de ser o espetáculo das passarelas.. Pensando nisso o caderno Feminino & Masculino foi atrás de ex-alunos para saber como anda a carreira longe da escola.
...Começamos com Bárbara Maciel, ex-aluna de moda do Centro Universitário UNA, dona da marca Chicletes com Guaraná, criada em 2005, ao lado da sócia, Louise Cristine, responsável pela gestão. Com showroom no Prado, as criações retratam a identidade da estilista: doce e forte, delicada e exótica, feminina e criativa, tudo ao mesmo tempo. E o fundamental é que a história de Bárbara e a moda foi uma descoberta. Separação dos pais, mudanças na vida pessoal, um tempo longe do Brasil - viveu nove meses na Inglaterra, em Bournouth, cidade de praia, mas com direito a chá das cinco -, casamento com um italiano, a maternidade - é mãe de Georgia e Francesca Chiornio -, até chegar o momento de se ver no mundo fashion. Até então customizava suas roupas. Desfazia as velhas, recriava-as e vendia-as para as inglesas, enlouquecidas com seu estilo de laços, flores e casinhas de abelha.
A faculdade de negócios internacionais ficou no meio do caminho e, com o sangue empreendedor da família nas veias (é neta de um dos fundadores da São Geraldo, empresa de transporte rodoviário), Bárbara trabalhou, em Lisboa, como estila da marca Truco e integrou a equipe de estilo da renomada Ana Salazar. De volta ao Brasil, desenhou sapatos e bolsas para Zem, até a mãe, Maria do Carmo Maciel, Biba Maciel, principal incentivadora e provocadora de desafios, injetar capital no seu sonho da Chicletes com Guaraná. Com o aviso: "Sem direito a erro".
Quatro anos se passaram, Bárbara já recuperou todo o investimento. A Chicletes com Guaraná produz cinco mil peças ao mês e tem 315 pontos-de-venda no Brasil e no exterior (Itália, França, Inglaterra, Portugal e Angola).
"Comecei sendo fotografada em Bournouth por causa das minhas roupas, passei a fazer para as colegas de escola e na volta para o Brasil, já sabia qual caminho seguir. Tenho força de vontade, não sou de esperar, sempre fui criativa e espontânea e a marca tem a minha cara. As roupas são coloridas, vivas, muitos vestidos, a mulher que visto nunca terá a barriga de fora, saia curta ou decotes desproporcionais. No início, fazia tudo sozinha, como crescemos, precisei delegar, mas participo de todo o processo no desenvolvimento de cada coleção", conta. Emotiva, falante, Bárbara cativa em minutos, mesma atitude traduzida em suas roupas, que chegam para os lojistas com poesias em cada lançamento. Detalhe: escritas pela designer.
Lilian Monteiro
Jornal Estado de Minas
